16 de abr. de 2010

Green Building: ecologistas do concreto defendem certificação sustentável para obras

Especialista explica os conceitos do processo, que encarece em 9% a construção mas diminui os custos de manutenção de empreendimentos comerciais

Esqueça a casinha de sapê, os novos ecologistas do setor imobiliário investem mesmo é no concreto, em grandes prédios comerciais. Mas um prédio com dezenas de andares e vários escritórios e um condicionador de ar central pode ser sustentável? Segundo a gerente de Consultoria em Sustentabilidade da Cushman & Wakefield Juliana Malho, sim. E mais, mesmo que o custo da obra seja inicialmente maior, a diferença será compensada na manutenção operacional do prédio – e até na produtividade dos funcionários de escritórios que ele abriga.
A primeira distinção que Juliana faz é justamente a de não confundir o movimento Green Building com “ecobichogrilismo”. A idéia não é integração com a natureza, mas um processo que agrida menos o meio ambiente desde a obra até o produto final. Números do Green Building Council dos EUA (USGBC) dizem que: uma edificação aumenta em 12% o consumo de água de uma região, são gerados 30% mais gases do efeito estufa e 65% mais esgoto em média.
frente
Sede da Adobe, na Califórnia, tem certificação sustentável
É na redução desses índices ainda no canteiro de obras que entra em cena uma certificação de processo de Green Building chamada Leed (Liderança em Energia e Ambientalismo em Projetos, na sigla em inglês). O selo, que funciona como um ISO 9000 ecologicamente correto para construção, tem vários passos e exige, por exemplo, uma eficiência energética que reduza em, no mínimo, 10% o consumo do prédio após sua finalização. A certificação, criada nos EUA a partir de vários outros selos com a mesma idéia básica surgidos em outras partes do mundo. No Brasil, foi em 2004 o primeiro pedido de certificação Leed. Hoje, há mais de 170 pedidos na fila.
Obra fica 9% mais cara
Juliana admite que 170 pedidos em meio a um boom imobiliário vivido no país é um número pequeno. Ela explica que a conta da construção verde não é totalmente paga após a obra, na venda do imóvel ou nos aluguéis dos andares. “Uma construção verde pode ter um acréscimo de até 9% no preço por metro quadrado”, informa baseada em dados da construtora Tishman Speyer. Em construções comuns, esse custo já varia entre R$ 2 mil a R$ 2,5 mil por metro quadrado segundo a própria especialista. Um acréscimo de 9% no valor mais baixo já elevaria o custo da obra em quase R$ 2,2 mil por metro quadrado.
Características dos prédios verdes
O processo todo começa na seleção de fornecedores de materiais para a obra, o que inclui desde uma a pesquisa de CNPJ, a verificação da licença ambiental, normas técnicas e durabilidade do produto até o cuidado para que os caminhões de detritos ou areia não deixem a área ao redor do canteiro suja. Os prédios verdes são equipados com condicionadores de ar mas, para compensar o gasto, procuram alternativas para diminuir o consumo energia. Segundo o USGBC, isso pode passar pela instalação de painéis solares, uso de sensores para desligamento de luzes desnecessárias e, principalmente, o desenho do projeto, que deve permitir o máximo de passagem de luz natural por janelas, clarabóias ou o que combinar com o estilo previsto.
escritórios
Luz natural ajuda a economizar energia
google
No telhado da sede do Google, há painéis de energia solar
O uso de água também é racionalizado, com a previsão de instalações para coleta e reaproveitamento de água da chuva, uso de descargas sanitárias econômicas e até mictórios sem descargas – utilizado no prédio corporativo da companhia de software Adobe, na Califórnia. Lá ainda, o sistema de irrigação de plantas é controlado por computador.
Há ainda exigências paisagísticas. Segundo os técnicos, deve haver um jardim de tamanho calculado para melhorar a permeabilidade do solo e toma-se cuidado com a seleção de materiais claros, que não absorvem tanto calor e podem diminuir o “efeito ilha”. Recursos como esses poderiam reduzir o calor da área em até 1ºC.
Prédios comerciais x residenciais
Esse custo que faz com que o Green Building seja caro demais para a construção de prédios residenciais. “Nesse caso, a empresa constrói e vende direto para o usuário final. Ela não tem preocupações com os custos de manutenção da operação do prédio”, afirma. A lógica por trás desse raciocínio é a vedete dos ecologistas de concreto. Segundo Juliana, prédios verdes economizam nos custos de manutenção. A redução é de, em média 25% no uso de energia elétrica, 33% a 39% na emissão de CO2 e 40% no uso de água potável. Em termos de custo, isso empata com os 9% adicionados aos custos de construção, mas a rentabilidade fica diluída no longo prazo de operação dos imóveis comerciais.
A conta, entretanto, ainda não fecha totalmente na hora da venda do imóvel. Segundo pesquisas, o valor percebido pelo comprador ainda é baixo, resultando num acréscimo de preço de apenas 7,5%. O acréscimo no valor da taxa de locação dos andares desses prédios comerciais sustentáveis é ainda mais baixo: 3%. Não há nenhum tipo de incentivo governamental para construções desse tipo.
Com bases nesses números, os argumentos para construtoras, compradores e locatários desse tipo de prédio voltam-se para as possibilidades de ganhos decorrentes. Dados do site do USGBC ilustram essa estratégia ao informar que as ausências de funcionários podem ser reduzidas em até 15% e a produtividade das pessoas que trabalham em prédios verdes pode crescer até 16%.
Janelas
De novo, na Adobe: proximidade de janelas são consideradas desestressantes
No Rio Grande do Sul
Resultados econômicos a parte, entre os 14 projetos já certificados existentes no país estão agências bancárias, torres comerciais e centros de logística. Na lista devem entrar estádios de futebol, já que existe uma forte recomendação do Comitê Olímpico para que as obras sejam sustentáveis. No Rio Grande do Sul, o San Pellegrino Shopping Mall, em Caxias do Sul, deve ser o primeiro prédio.
Janelas
Boa parte da estrutura do shopping é feita de janelas
PENSE IMÓVEIS
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