3 de mai. de 2010

Vídeos de dança amadores são nova febre viral na web

Um vídeo que envolva Lady Gaga e Beyoncé com certeza atrairá muitos espectadores e, por isso, essa sensação do YouTube já foi assistida mais de 800 mil vezes. Mas não, não estou falando sobre o videoclipe de Telephone, sua recente colaboração. Na verdade, o vídeo em questão mostra um jovem de 14 anos e outros alunos da Academia Internacional de Dança de Hollywood em uma coreografia acelerada - com direito a rebolado, jogadas de cabelo e tremores pélvicos - criada pelo professor Dejan Tubic e inspirada em parte pela música e pelos passos de dança característicos de Beyoncé e Lady Gaga.

Essa interpretação de Telephone, uma das mais de uma dúzia que podem ser encontradas online, é o mais recente exemplo da maneira pela qual os vídeos de dance music e seus derivados - tributos, aulas passo a passo sobre a coreografia, paródias - acrescentaram o aspecto de divulgação viral ao velho conceito de canções de sucesso baseadas em um novo passo de dança, como o twist.
A tendência renovada remonta a Crank That (Soulja Boy). Quando lançada, em 2007, a canção e seu passo de dança se difundiram rapidamente via internet.Single Ladies (Put a Ring on It), de Beyoncé, lançada em 2008, continua a gerar dezenas de imitações, aulas e mash-ups, como o demonstra um recente tributo que combina o vídeo a clipes de canções de grupos femininos da Motown nos anos 60.
Como acontece no caso de outros fenômenos virais, as produções profissionais inspiram as pessoas a aprender a coreografia e a postar online vídeos de sua performance. Os tributos resultam em novos tributos. "Usualmente, recebo pelo menos uma vez ao dia um e-mail com um vídeo novo enviado por alguém, às vezes de parte distante do mundo, que me pede para assistir porque a pessoa aprendeu os meus passos", diz Tubic, 20, que se mudou de Cleveland para Los Angeles dois anos atrás, a fim de tentar carreira como dançarino e coreógrafo. "Há garotos sem formação nenhuma em dança que são capazes de reproduzir meu estilo de dançar e minha coreografia com muito talento".
Com o sucesso de Single Ladies e Telephone, surgiram outros vídeos de produção profissional cara. O novo OMG, de Usher, com participação de will.i.am; a sexy Ride, de Ciara, lançada nos últimos dias, com a presença de Ludacris; e Not Myself Tonight, de Christina Aguilera (o primeiro single de Bionic, seu novo álbum, a ser lançado em junho) têm todos fortes componentes de dança. "As pessoas começaram a perceber que se divulgarem online um vídeo que contenha dança, milhões de espectadores assistirão", disse Tubic.
A popularidade dos vídeos cujo foco é a dança também reflete uma mudança na maneira pela qual os consumidores apreciam música. "A dança está sendo usada para motivar as pessoas a apreciar a música, sentir a música e sua alegria", diz Laurieann Gibson, diretora de criação e coreógrafa de Telephone e outros dos projetos de Lady Gaga. "Se você não tiver a dança como parte do seu visual, não há como atrair a garotada para essas canções".
As gravadoras também estão cientes do poder da dança para atrair os consumidores de música. "Recentemente assinamos para lançar diversas gravações que promovem passos de dança específicos", disse Jeff Dodes, vice-presidente executivo de marketing e mídia digital no Jibe Label Group. "Sabemos que é possível fazer mais com gravações que já tenham passos de dança, como por exemplo promover vídeos virais, quer os vídeos oficiais, quer vídeos mais baratos nos quais os artistas literalmente ensinam a dança passo a passo". "Não vamos assinar com um artista só porque uma canção tenha um passo de dança", acrescentou, "mas isso é algo que vemos como benefício, porque nos oferece um caminho de marketing".
A campanha de OMG, de Usher, por exemplo, envolveu uma estreia do vídeo via YouTube, bem como atividades no site oficial do rapper (usherworld.com). Depois, diz Dodes, "nós destacaremos esses tributos, na falta de um termo melhor, nos quais as pessoas imitam seus passos de dança, ressaltando o ângulo de que todo mundo pode aprender, e com isso a canção se torna mais que uma música de rádio que aparece ocasionalmente no iPod, e ganha contornos de uma experiência mais ampla".
Gibson assistiu a muitos dos vídeos nos quais as pessoas reproduzem os passos de dança criados por ela. "Vi um menininho que estava fazendo a dança do sanduíche, e achei o máximo", ela disse, em referência a uma sequência que envolve palmas duplas à esquerda e à direta seguidas por imitações de pequenas mordidas, de Telephone.
Ela atribui parte da atração daquele vídeo - que na verdade funciona como um filme curto ao modo de Quentin Tarantino - ao personagem criado por Lady Gaga, menos sofisticado do que costuma ser o caso entre as estrelas pop. "Criei o passo com alguém que não é assim tão perfeita", disse Gibson. "Creio que essa é uma das coisas com a qual muitas pessoas se identificam. Não é preciso ser perfeito para fazer a coreografia de 'Bad Romance' ou a de 'Poker Face'". A ênfase rítmica cai em batidas inesperadas: "A base dessas canções é uma emoção", diz Gibson, "de modo que quando uma pessoa ouve a música, ela é coreografada como uma dança emocional, e as pessoas mais ou menos sentem essa emoção quando reproduzem os passos de dança".
A proliferação de vídeos de dança realizados por usuários sugere que a dança se tornou tema comum o suficiente para que as pessoas não hesitem em se arriscar mostrando seus passos a milhões de telespectadores. "Quando comecei, não era assim tão social", diz Anthony Rue II, um dançarino conhecido pelo pseudônimo Antboogie, que acompanhou Madonna em turnês e organiza concursos de dança.
Embora programas de TV como America's Best Dance Crew, da MTV, tenham ajudado a apresentar as alegrias da dança a novos telespectadores, o aspecto online dos vídeos de dança é diferente, hoje em dia. Redes de TV como a MTV raramente exibem videoclipes, e quando o fazem é de acordo com os horários de sua programação. "Mas agora as pessoas podem ir ao YouTube e assistir a um vídeo um milhão de vezes", disse Rue.
Como no caso dos astros da música, profissionais em ascensão como Rue e Tubic também empregam vídeos para promover o seu trabalho e conquistar atenção. Os aspirantes a coreógrafos muitas vezes conduzem improvisos sobre a coreografia original de um vídeo, tentando tornar os passos ainda mais desafiadores, mais ou menos como um duelo de rap entre Lil' Wayne e Jay-Z.
Mas Tubic disse que seu principal objetivo era ajudar os telespectadores a dançar em casa. "Uma coisa que vi muitas vezes online era que havia muita gente criando tutoriais ensinando a tocar piano, como tocar determinação canção no teclado, e por isso eu queria que as pessoas tivessem uma página que pudessem usar para aprender passos de dança".
Os professores profissionais de dança deveriam se entusiasmar, porque em pelo menos um caso os vídeos de dança estimularam alunos a procurar aulas . Em junho, no Broadway Dance Center, como parte de um curso chamado "The Pulse" e destinado a dançarinos e coreógrafos, Gibson vai ensinar na íntegra a versão oficial e ininterrupta de sua coreografia para Telephone.
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times


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