Pequim, China) - O recente conflito com o Google levou o governo chinês novamente ao noticiário de tecnologia e reacendeu a polêmica sobre a censura da internet no país. Mas, no cotidiano dos chineses, pouco mudou com a decisão do Google de modificar suas atividades na China.
As medidas de censura do governo estão muito mais presentes na infraestrutura de comunicação do que no dia-a-dia dos cidadãos, e o acesso a provedores de internet não é muito diferente do que ocorre no Brasil. A maior diferença fica nas lan houses, que enviam informações sobre seus frequentadores para o governo.
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Lan house: popular ponto de acesso à web na China |
A internet chinesa encerrou 2009 com respeitáveis 384 milhões de internautas, ou 28,9% da população de 1,3 bilhão de pessoas. Num país acostumado a números grandiosos, pode-se esperar um dado superior a 400 milhões de usuários no próximo relatório do Centro de Informações sobre a Internet da China, o regulador do sistema, que deve ser divulgado ao final do primeiro semestre.
Internet sem burocracia
Não é difícil acessar a rede em Pequim, a capital do país. Munido de um smartphone, um usuário de serviço pré-pago (garantido sem burocracia, apenas com a compra de um cartão SIM na banca de revistas mais próxima) pode ativar o serviço de maneira simples. Há três operadoras de telefonia sem fio na China: a líder China Mobile, a China Unicon e a China Telecom. Todas são estatais.
O preço mensal do serviço muda de acordo com o tráfego de dados, de tecnologia e tempo conectado. Em média, é possível garantir 24 horas e acessar e-mails a qualquer momento por menos de R$ 15 por mês. Em cidades grandes, como Pequim, Xangai e Cantão, é mais fácil economizar os dados da franquia, graças à internet sem fio gratuita. Há diversos lugares com acesso Wi-Fi grátis, como bares, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais.
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Muitos bares de Pequim oferecem acesso sem fio grátis |
Banda larga
Há 16 anos conectado, o país que em 1994 oferecia uma linha internacional dedicada a 64kbs, hoje garante acesso via banda larga a 346 milhões de internautas, ou 90,1% deles. Para as conexões mais robustas, o preço mensal médio é de R$ 45, e o serviço chega à casa do usuário como chega para qualquer cidadão brasileiro. Apresenta-se apenas endereço e documentos de identidade e para contratar o serviço.
Lembra dos R$ 15 para acessar a internet no celular? Esse valor propicia uma razoável popularidade para o acesso móvel. Até dezembro do ano passado, 233 milhões de chineses, ou 60,8% do total online, tinham web via celular. Tanta conectividade garante um gasto médio de 18,7 horas semanais na internet. Os homens são maioria na internet chinesa, respondendo por 54,2% do total de internautas.
Censura
A internet chinesa está ao alcance de qualquer cidadão e em muitos casos com conexão de boa qualidade. O que é censurado na China é um conjunto de informações determinado pelo governo. O conteúdo censurado inclui dados relativos a eventos como Massacre da Praça Tiananmen ou a figuras como Dalai Lama. Mas pelo menos parte da população chinesa não parece incomodada com isso. É o caso da produtora de elenco Wu Lin.
- Não ligo para a censura. Nunca usei redes sociais como Facebook ou Twitter, sequer estava acostumada ao Google, sempre preferi o Baidu ao buscar conteúdos na internet – diz. Wu não se separa do laptop nem mesmo enquanto saboreia um café em um dos bares com acesso sem fio da cidade.
O Baidu é o serviço de buscas mais popular da China, desbancando o gigante americano Google com uma fatia de mais de 60% do mercado de pesquisas na web. Como boa empresa que sabe fazer o dever de casa, o Baidu segue à riscas as regulamentações governamentais quanto à censura de conteúdo.
Lan houses
Nas lan houses, onde o acesso custa, em média, R$ 0,50 por hora (o valor pode chegar a R$ 3,85 durante a madrugada), os homens são maioria. Menor de 18 anos não entra. Desde o dia 07 deste mês, reforçando regulamentação de 2002, estabelecimentos da capital que forem autuados oferecendo o serviço a adolescentes terão a licença suspensa por um mês.
Se em menos de um ano houver reincidência, o local perde o direito de funcionar. A medida tenta apagar a memória de um incidente protagonizado por dois jovens em junho de 2002, que, ao incendiarem um cybercafé em Pequim, provocaram a morte de 25 pessoas e deixaram outras 17 feridas.
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Muitas lan houses chinesas funcionam 24 horas por dia |
Hoje, quem entra em uma lan house na China deve, obrigatoriamente, oferecer o cartão de identidade, mesmo que seja apenas para pedir mais tempo de uso no terminal. A regra vale também para estrangeiros, que não acessarão a internet em lan houses se não apresentarem o passaporte.
Em Pequim, a segurança é reforçada por uma máquina que faz as vezes de scanner para os cartões de identidade dos chineses e de máquina fotográfica. Ela identifica os usuários da lan house e fornece as informações em tempo real para o departamento municipal responsável – que tem o curioso nome de Departamento Municipal de Assuntos Culturais.
Quem explicou o funcionamento da engenhoca ao iG foi o gerente de uma lan house em Jianhua Nan Lu, área nobre da cidade, que abriga escritórios de multinacionais e várias embaixadas, inclusive a do Brasil. O jovem, que diz estar no local há pouco mais de dois anos preferiu falar sob a condição de anonimato – a mesma que nega aos clientes do seu negócio.
Fonte: IG.com.br
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