17 de abr. de 2010

Rivais do iPad correm para lançar aparelhos híbridos

Da mesma forma que o iPhone abalou a complacência do setor de celulares, oiPad, da Apple, está provocando os fabricantes de computadores - e alguns outros rivais - a contra-atacar por meio de novos aparelhos.

O Google, uma empresa de buscas e publicidade, deve em breve começar a vender sua versão de computador tablet, parecida com o Apple iPad, enquanto a Nokia, maior fabricante mundial de celulares, planeja ingressar no mercado de livros digitais por meio de um leitor eletrônico de formato parecido.
A produtora de software Microsoft está flertando com a ideia de lançar um tablet próprio, aderindo a fabricantes tradicionais de computadores como a Hewlett-Packard, que já assumiram o compromisso de oferecer produtos desse tipo.
Em parte, essas empresas estão agindo em reação à pressão exercida pelo iPad, que chegou ao mercado em 3 de abril. Mas suas decisões de desenvolver produtos híbridos também demonstram seu desejo de expandir suas atividades essenciais e de experimentar com tipos variados de modelos de negócios e tecnologias.
Para os consumidores, isso pode ser positivo, já que mais companhias oferecerão versões de tablets, uma nova categoria de produto eletrônico, em uma disputa aberta de design. Os produtos, que em geral terão preço inferior a US$ 600, oferecem recursos diferentes e em alguns casos incomuns, que refletem as opiniões de cada empresa sobre o que interessa mais aos consumidores.
"Estamos vivendo um momento de alta animação, agora", disse Olli-Pekka Kallasvuo, presidente-executivo da Nokia. "É um grande desafio definir em que setor estamos, porque tudo está mudando".
Historicamente, a Microsoft sempre foi a maior defensora dos tablets, que permitem que os usuários escrevam sobre a tela com uma caneta especial, como fariam em papel. E, nos últimos anos, grandes fabricantes de computadores pessoais, a exemplo de Dell e HP, aproveitaram o software da Microsoft para produzir esse tipo de aparelho. Mas eram todos modelos semelhantes, e com limitações naquilo que tinham a oferecer aos usuários.
O software, baseado no Microsoft Windows, nunca pareceu flexível o bastante para se enquadrar a uma variedade mais ampla de dispositivos móveis.
Agora, existe muito mais software e hardware disponível para produzir aparelhos de baixo custo, boa capacidade e portáteis, conhecidos como tablets ou slates, mais finos, leves e tipicamente desprovidos de teclados físicos.
Apple, Google e Nokia têm plataformas próprias de software para eles, e Intel, Nvidia, Qualcomm, Broadcom e Marvell estão na disputa para fornecer chips para essa nova onda de produtos. Enquanto isso, a Microsoft está considerando produzir um tablet próprio, para tentar apresentar um pacote tão coeso quanto os oferecidos pela Apple e outros concorrentes.
A Apple anunciou ter vendido mais de 450 mil iPads nos primeiros dias de varejo do novo produto. Os consumidores se deixam atrair pelo prestígio da marca e pela abordagem nova quanto à computação que o iPad oferece, com a ênfase na tela de toque e no entretenimento, ante o teclado e a produtividade.
Mas os comentaristas e consumidores também vêm ressaltando o que falta ao iPad - uma câmera, por exemplo, e capacidade para exibir boa parte do conteúdo de entretenimento da web, a exemplo de vídeos em formato Flash.
O iPad também foi criticado por sua incapacidade de permitir a realização de tarefas múltiplas simultaneamente, mas a companhia anunciou na sexta-feira que o aparelho adquirirá essa capacidade antes do final do ano. Outro ponto negativo do iPad é que ele depende de um chip de celular, menos poderoso que um chip de computador.
A versão HP do iPad deve sair na metade do ano. Terá câmera e portas para dispositivos adicionais, como um mouse. Também permitirá "acesso a toda a internet", como enfatiza a empresa em um anúncio, o que inclui vídeos e outras formas de entretenimento.
Phil McKinney, vice-presidente de tecnologia na divisão de sistemas pessoais da HP, disse em entrevista recente que a empresa vem trabalhando em seu tablet há cinco anos. O lançamento do produto foi adiado, afirma, até que seu preço pudesse ser mais baixo.
O departamento de marketing do grupo vem lançando vídeos sobre o aparelho na internet. Esse tipo de marketing prospectivo é novidade para a HP, que raramente fala sobre produtos ainda não lançados. McKinney alega, no entanto, que a empresa não se sente pressionada pelo fato de a Apple já estar no mercado, e que lançará o seu tablet quando estiver pronta.
"Já tenho um deles em minha mesa", disse McKinney. "Nós não reagimos ou respondemos aos cronogramas da concorrência e coisas parecidas". Acer, Lenovo e Dell têm tablets em preparação, igualmente. Mas a Apple pode enfrentar mais risco com o lançamento de concorrentes de fora do setor de computação.
O Google, por exemplo, vem trabalhando com diversos produtores de hardware para difundir seu software Android, inicialmente criado para celulares e concorrente direto do sistema operacional do Apple iPhone. A empresa também espera criar um mercado de aplicativos próprio para os novos tablets.
Mas o Google está levando a ideia um passo adiante e explora a possibilidade de fabricar um tablet, um leitor eletrônico que funcionaria como computador.
Eric Schmidt, o presidente-executivo da empresa, disse a amigos em festa recente em Los Angeles que a empresa está desenvolvendo um novo aparelho, acionado exclusivamente pelo sistema operacional Android.
Pessoas que conhecem diretamente o projeto mas pediram que seus nomes não fossem citados porque não têm autorização para falar publicamente a respeito afirmaram que a companhia vem conduzindo experiências "em modo discreto", junto a alguns grupos editoriais, a fim de estudar sistemas de distribuição para livros, revistas e outras formas de conteúdo em um tablet.
A HP também está desenvolvendo um tablet que operaria com o Android; ele foi apelidado de "meio-litro", porque sua tela de seis polegadas seria menor que a do iPad.
A Microsoft gerou rumores em blogs, como a Apple costuma fazer, ao deixar vazar vídeos de um protótipo de seu tablet, o Courier. De acordo com um funcionário da empresa que já o viu, ele tem tamanho de livro de bolso e, quando aberto, mostra duas telas. Os usuários poderiam fazer anotações nele com uma caneta e transferir facilmente conteúdo entre as telas.
Mas os engenheiros da Microsoft têm preocupações quanto à duração de bateria necessária a manter duas telas em operação, dizem essas pessoas. E há disputas internas na empresa quanto à identificação do mercado correto. Inicialmente a ideia era a de comercializar o Courier para designers e arquitetos, mas recentemente a empresa começou a pensar em mercado mais amplo de consumidores, e por isso pode incluir livros e revistas eletrônicos e outras formas de conteúdo de mídia no modelo.
Os engenheiros da Microsoft estão falando em lançamento do Courier no começo de 2011, mas a decisão de fabricá-lo ainda não foi tomada. Na Nokia, enquanto isso, uma equipe de engenheiros, designers e editores trabalha em um leitor eletrônico, com a esperança de dar à empresa posição dominante no mercado de livros digitais e aplicativos.
Kallasvuo se recusou a comentar especificamente sobre o modelo mas disse que o pequeno laptop que a companhia lançou no ano passado foi bem recebido, e que ela continua a estudar novos tipos de aparelhos "convergidos".
"O consumidor obviamente terá muito mais escolha no que tange a onde e o que conectar", disse Kallasvuo. Ele argumentou que a Nokia tem maior alcance devido à sua ampla rede de canais internacionais de vendas, para distribuir conteúdo, e mais experiência em lidar com conteúdo local em países como a Índia e a China, se comparada, por exemplo, à Apple ou ao Google.
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
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