11 de ago. de 2010

USO DO DISSIPADOR DE ENERGIA BAGWALL NO CONTROLE DO AVANÇO DO MAR

Marco Lyra – Engenheiro Civil Especialista em Obras Costeiras
O ambiente litorâneo é um sistema dinâmico não-linear, onde as implicações de seus integrantes individualmente são aleatórias e não previsíveis. Estes sistemas evoluem no tempo e no espaço, com um comportamento desequilibrado e aperiódico, onde seu estado futuro é extremamente dependente de seu estado atual, e pode ser mudado radicalmente a partir de mudanças no presente.

Já reparou nas formas do litoral? Será que existem ilhas quadradas?

A modelagem da linha de costa deve-se a um conjunto de forças complexas que atuam no ambiente costeiro, formando o padrão existente.
O que fazer quando o mar avança e destrói o patrimônio das pessoas?
Normalmente como medida emergencial, os proprietários dos imóveis colocam pedras na praia na tentativa de salvar seus respectivos patrimônios. Em determinadas circunstâncias de forma paliativa, essa é uma medida quase inevitável. É importante observar que a colocação de pedras na praia aumenta o processo erosivo no local.


Hoje no mundo temos tecnologia para construir ilhas dentro do mar, veja o exemplo de Dubai. O problema não é a tecnologia de engenharia para construir, é quanto estamos dispostos a pagar para resolver o problema. Quando o mar avança em áreas já urbanizadas temos soluções que podem ser a remoção da população local, a exemplo do que ocorreu no Povoado Cabeço em Sergipe, ou podemos construir obras de defesa costeira a exemplo do que faz Portugal onde em 2009 gastou com reposição de aterro hidráulico de praias cerca de 36 milhões de euros e, em 2010 pretende gastar cerca de 100 milhões de euros.
Portanto, deixamos um alerta aos estados e municípios que estejam enfrentando esse tipo de problema. É preciso avaliar o custo benefício das obras a serem implantadas, de preferência visitando e observando os resultados já existentes dessas obras onde foram implantadas, para não correr o risco de jogar dinheiro público ao mar.
Dom Hélder Câmara, Arcebispo Emérito de Olinda sempre utilizava uma celebre frase “cada ponto de vista é à vista de um ponto”.
Se olharmos da praia para o mar, observamos o movimento caótico das ondas com suas alturas variando a cada avanço e recuo do mar, observamos a intensidade do vento constantemente mudando de velocidade, observamos que grandes quantidades de areias se deslocam ao longo da linha de costa, tudo muda nesse ambiente em fração de segundos.


Se olharmos do mar para a praia, observamos o mesmo ambiente caótico sendo que a costa é a região onde parece que todas as forças convergem. É como se a costa fosse um atrator caótico.

Podemos concluir que as praias e as zonas costeiras são as regiões onde se faz sentir a ação energética do mar sobre os continentes. É a costa o obstáculo onde as ondas acabam por dissipar toda a sua energia.

Quando defendemos uma defesa costeira onshore, é baseada no que ocorre em qualquer praia do mundo, “a praia é o grande dissipador de energia das ondas”, conseqüentemente, se queremos conter o avanço do mar o local mais favorável para fazê-lo é na costa. Essa é a concepção básica do barra mar dissipador de energia Bagwall. 


Observando-se o que está ocorrendo nas praias de Florianópolis, verifica-se que a situação é caótica. É preciso analisar o problema dividindo as ações a serem adotadas em duas etapas: ações de curto prazo e ações de médio prazo.

Nas ações de curto prazo estão as emergências que ocorrem nas áreas já urbanizadas, onde as opções podem ser a remoção da população existente do local, como ocorreu no Povoado Cabeço em Sergipe, ou torna-se necessário a execução de obras de defesa costeira para conter o processo erosivo, como resposta ao desastre, a exemplo do que ocorreu na praia do Janga, Município do Paulista em Pernambuco. Lá foram construídos espigões, quebra-mares emersos e engorda artificial de praia, entretanto, mesmo após a construção das obras de proteção, o processo erosivo continua no local, inclusive transferindo o problema para praias vizinhas.
Nas ações de médio prazo que também são urgentes, faz-se necessário a implantar o Zoneamento Econômico e Ecológico Costeiro, em todos os municípios litorâneos, para que a partir da determinação dessas áreas, inclusive incluindo-as nos respectivos planos diretores das cidades, sejam elaborados planos de gerenciamento costeiro integrados, como instrumento para garantir o crescimento sustentável do litoral brasileiro.
Antes de decidir qual alternativa escolher para controlar a erosão litorânea é necessário observar os seguintes fatores: Durabilidade da obra; Disponibilidade do material para construção; Custo de implantação; Impactos ambientais; e custo de manutenção da obra. É de fundamental importância observar o custo/benefício das obras implantadas, onde muitos municípios têm dificuldades financeiras para manter as obras em funcionamento.
Portanto, é importante observar na escolha da alternativa a ser utilizada para obra de defesa costeira, os seguintes critérios: A obra não deve interferir na dinâmica sedimentar, ser resistente e durável, conter o avanço do mar, dissipar a energia do trem de ondas, facilitar o acesso da população a praia recreativa, harmonizar a obra com o ambiente de forma a torná-la menos impactante, não transferir o processo erosivo para áreas adjacentes, promover a recuperação do perfil praial, e ter baixo custo de manutenção.

Em Alagoas, foram construídos três dissipadores de energia do tipo barra mar “Bagwall”, cujo sucesso resultou em benefícios ambientais obtidos no controle da erosão marinha. As três obras foram realizadas em condições geológicas, morfológicas, geográficas e hidro- dinâmicas completamente distintas, e apresentaram o mesmo resultado final: Contenção do avanço do mar sem transferir o processo erosivo para áreas adjacentes; Recomposição do perfil de praia com engorda natural no local da intervenção; Facilitação do acesso à praia recreativa da população; Manutenção da obra com custo muito baixo.
É de fundamental importância observar que nos locais onde o Bagwall foi construído, antes havia erosão, após sua construção passa a ter a engorda natural com tendência ao equilíbrio do perfil da linha de costa.
Isto induz a observação de que o processo dissipativo é tido como fonte de ordem em um sistema caótico como o das praias e zonas costeiras. As coincidências constantes nos três casos apresentados nas fotos abaixo relacionadas indicam ser fundamental expandir-se a experiência, inclusive utilizando-as em outras regiões.




Fonte: Marco Lyra – Engenheiro Civil Especialista em Obras Costeiras (marcolyra2@yahoo.com.br) em entrevista ao Blog InformeSuldaIlha.com
Entrevista com Dr. Marco Lyra no site Jabotão em Foco



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